MORTE
(em um velório. minha primeira vez)
viver é aproximar-se cada dia da morte.
instante pleno. completo.
nada por ser e tudo o foi.
o feito e o não feito estão.
existiremos ainda.
enquanto tivermos descendentes que se lembrem e contem.
existir na lembrança do outro. na fabulação.
não existir sozinho.
o corpo jaz.
olho pela primeira vez um corpo sem vida.
parece ela poderia se levantar a qualquer momento.
tudo como antes – pernas, músculos, tendões, cérebro.
quase posso ver o véu mover-se ao ritmo de sua respiração.
uma célula, cinzas.
filhos ao lado do caixão.
dor, alívio, culpa. um susto.
cada qual a seu modo.
flores feias, mal-cheirosas.
há gérberas vermelhas – minhas preferidas
aqui feias.
até girassóis.
feios.
inversão do ciclo.
essa mãe ainda filha.
a senhora idosa, desamparada, entra:
_ filha...
chama.
(eu jamais ouvira mais triste)
não há resposta ao chamado. e jamais haverá.
16.10.07
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Um comentário:
"depois da morte, inda teremos filhos!"
Postar um comentário