“Não é bastante ter ouvidos para se ouvir o que é dito.
É preciso também que haja silêncio dentro da alma.” (Alberto Caeiro)




12.3.10

CASA

Há um prédio baixo, 3 andares, desses sem portaria ou elevador, próximo ao meu. É um prédio de pastilhas verdes e fachada já bastante desgastada.
Passo em frente a ele todos os dias em minha caminhada matinal rumo a faculdade e todos os dias leio a pixação acima do portão da garagem:

"eu só queria voltar para casa!
23/11/2003"

Já imaginei um sem número de histórias que terminam com essa frase.

Nos meus dias mais otimistas, imagino um casal que tenha se separado... Imagino que ele (a letra parece-me masculina), entre outros pedidos de reconciliação, tenha feito a pixação.
Imagino que a reconciliação tenha sido bem sucedida e que os dois vivem hoje - felizes - no prédio e que juntos dividem aquela garagem.

A mensagem não foi apagada para que não se esqueçam e nunca voltem a se separar.

Em dias menos otimistas, decido triste que eles nunca voltaram a ficar juntos. E que, para evitar o incômodo da memória, ela tenha se mudado dali já há bastante tempo.

Da mensagem na parede, nenhum dos dois se lembra mais.

Sempre que leio a frase, penso que eu também gostaria de voltar para casa...
Há tempos que meu apartamento perdeu esse conforto de lar.
Ando planejando me mudar, mas não tenho certeza que a troca de endereço seja suficiente para me trazer de volta para minha casa.

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